quarta-feira, 2 de março de 2011

Não quero que vos falte nada... Parte 1!!

...............Tenho ainda entaladas na memoria um monte percalços e situações que não foram ainda divulgadas. Ou por preguiça ( pouquinha, mas bem esticadinha dá para fazer milagres!) ou por... Preguiça!! Varias foram as razões pelas quais alguns momento que considero importantes ficaram de fora!! E como o tempo é bastante eficaz a apagar traços e riscos da memoria( digo memoria e não cabeça!! Para essa o tempo tem como passatempo favorito enche-la de riscos e traços!!), achei por bem voltar atrás, e sem querer ser maçador fazer registo das mesmas. Sendo assim resolvi viajar no tempo e olhar para a “coisa” ainda meio como um embrião!!

Todos os dias me passam coisas, pensamentos e ideias pela cabeça que não lembra ao diabo! E desde que me lembro de ser o que sou, que não é raro alguém me dizer: “Ó pá, ó Zé tu pensas em cada coisa!!” Felizmente que algumas dessas coisas á mesma velocidade que aparecem, também desaparecem!!

Ideias são assim como uma multidão de espermatozóides loucos ás cabeçadas a tudo quanto é parede mas que eventualmente acabam por ficar pelo caminho. Porem de vez em vez há uma, que porquê não sei, se agarra a um neurónio mais descuidado. E lá arranja forma de se fazer ouvir mais uma vez no meio de mais uma enxurrada de tantas outras que acabam por se desvanecer. Uma pequena semente que á força de fazer eco dentro da cabeça começa a crescer e a incomodar. “ E se um dia eu sai-se daqui, à aventura, mochila as costas!?” !! A ideia vem uma e outra vez. Mas é ainda tão pequenina que a comparo a uma semente de carvalho que acabou de brotar 2 folhinhas ao sol.

O tempo passa e a ideia cresce tanto que deixa de aparecer misturada com outras. Ocupa um espaço tal que qualquer outra ideia que se queira fixar, não pode!! A não ser que esteja relacionada com o gigantesco “carvalho” em que a semente/ideia se tornou!! Não sei quanto tempo a ideia de sair de casa rumo ao desconhecido levou para ganhar corpo dentro de mim. Sei que não surgiu sem mais nem menos. Sei que pensei nisto durante anos. Sei que cheguei a pensar que não passava de uma ideia tola, e que o dia da sua concretização estava tão distante que eu próprio não o chegaria a ver!

À quem lhe tivesse chamado coragem... Não digo que não houvesse uma pitada disso no feixe de razões que me levaram a seguir esta ideia/instinto. Mas havia algo mais. Desespero, saturação, vontade de viver ver e conhecer, libertação... Eu sei lá que mais!! A vida que vivia não me completava ao ponto que sem fazer quase qualquer plano, e ferrando umas mentiras acerca do que andava a planear – eu sei que não se faz! Mas a ultima coisa que eu precisava de ouvir, era o “conselho” de um qualquer amigo/conhecido, a dizer: “mas tu estas louco!!?? Perdeste a cabeça!!??” Para uma mais que provável resposta: “Sim!! E vou ver se a encontro por ai!!”

Ainda a debater a origem da semente, acho que foi excesso de pó na cabeça!! Talvez a memoria mais antiga tivesse origem em 2003/4. Altura em que ia ganhar os trocos para copos e ramboia a manobrar um dumper numa pedreira ali no concelho de Pombal. Pairava por aqueles lados tanto pó de pedra, num ambiente por vezes tão sufocante, que penso terá sido ai que se reunirão as condições para florescer tal pensamento. Era o meu subconsciente a tentar livrar-se de tamanho sufoco!! Assim como um rolinho de cotão debaixo da cama. Esta lá mas não incomoda! Deixa estar. Sai para a próxima! Tanto rebolou que ali para alturas da Primavera de 2010, estava tão grande, que todos os dias ao acordar a primeira coisa que me vinha á cabeça era. “PIRATE DAQUI PARA FORA!! MAS NEM PENSES PARA ONDE!! VAI... OLHA... VAI VER A NORUEGA!!” Não fazia a mínima ideia, nem faço, o porquê de ser a Noruega!! Talvez, arbitrava eu, por ter visto no passado umas imagens dos Fjordes e ter ficado encantado com a beleza natural do país!! A ideia de sair assim de casa a pé sem destino definido soa a loucura!! E então para aqueles que estão mais próximos de nós, namorada, família, amigos, soa a necessidade de apoio psicológico! Não estava disposto a parar por nada. Aos mais chegados(namorada e familiares directos) contei as primeiras razões que me empurravam nessa direcção, aos outros inventei um contracto de trabalho para Londres... pouco credível, mas eficaz!!

Ok!! É para ir à aventura mas à que pensar no que vou levar!! Posso dizer que nem tudo o que fui metendo em cima da mesa lá de casa saio comigo. A mesa era assim como o pedestal do plano estratégico. Lá, durante 2 meses fui colocando o que achava que poderia ser necessário para a viagem. Não foram raras as vezes que dei com a minha mãe a olhar para aquela “tenda”, como ela lhe chamava, e a adivinhar-lhe os pensamentos. “Mas que raio anda aquele garoto a tramar!!??”

- Zé Luís!! Para que é isto aqui!? Eu não quero ver esta tenda aqui, quero limpar e isto estorva-me.... vai tudo pó olho da rua!!!

- Deixe lá estar isso que não vai ser por muito tempo!!

Ainda ela não tinha noção da enxurrada de lágrimas que aquela “tenda” lhe iria provocar!

- Mas ó filho tu vais para onde!!?? Não faças isso!!!

Imagino que para uma mãe ver sair um filho de casa com uma mochila as costas, a pé e a dizer que vai em direcção à Noruega, deve doer mais que uma valente martelada numa unha... E garanto que a martelada na unha dá vontade de fugir para longe e deixar ali mesmo a unha, o dedo e a mão!! Entre a tralha que por lá esperava o grande dia, estava uma mochila xpto, que segundo o tipo que ma vendeu, era o ultimo grito para este tipo de epopeias. Bem, pensei eu, com tanto pormenor hi tech posso carregar isto ao máximo que ela vai sozinha, nem sinto o peso nas costas!! Treta! E 125 “aérios”!!?? Cheguei a ponderar a hipótese de carregar os meus pertences num saco de asas do “CONTINENTE”. Sempre me ficava mais em conta! Um par de botas para caminhada, umas peças de roupa, um estojo com produtos de higiene pessoal. Se vou andar à boleia tenho que andar limpinho!! Um outro com umas ferramentas de sobrevivência, cana de pesca(não fosse dar-me a larica à beira de um qualquer riacho),faquita de mato... é uma faca pequenina, não quero parecer o Rambo!! Um skate.... Um skate!!?? Mas para que diabo quero eu um skate!!?? Ainda se eu soubesse equilibrar-me em cima daquilo!! Ficou pelo caminho. Um cajado para me apoiar, que mais estorvava que ajudava... ficou numa qualquer valeta!! Ao fim de contas cheguei à conclusão que metade da tralha que por lá estava não me iria servir para nada. Ficou na mesa ou pelo caminho!!

Depois dos primeiros km, da primeira noite “acampada” no jardim da vila de Ansião, da segunda dentro de um camião algures em Espanha, e da valente tromba de água nas praias de Valência, achei por bem arrumar a “tenda” ( tencionava passar a noite na praia, mas a chuvada fez-me mudar de ideias ) e rumar para um qualquer lugar mais seguro!! A noite finalmente caio e dei por mim a caminhar num "sendeiro” pelo meio de uns canaviais que me despejaram no meio de um “bairro cigano”...Não transpareci, mas fiquei todo acagassado!! Senti-me um atleta numa qualquer prova olímpica, com as bancadas cheias de gente com os olhinhos postos em mim!! Com a única diferença que estes não acusavam apoio e incentivo, mas sim desconfiança e espanto!! Eu acho que só sai dali com a roupinha no corpo e restante bagagem porque os gajos pensaram: “bem, este ou é mais perigoso que nós, ou é muito parvo”!!!

Lembro-me que o caminho piorava à medida que me ia aproximando do avolumar das luzes de uma povoação que parecia mais perto do que realmente a distancia ia revelando. A noite estava escura como breu. Valeu-me uma lanterna que auxiliou os meus olhos quando estes não podiam ver o caminho. Pelo meio ainda interrompi um casal que estava a testar a suspensão do carro!! Mais que compreensível, depois de constatar o estado do piso em que caminhava! Pararam o teste quando passei, e recomeçaram quando já estava distante!! Lá tiveram as suas razões!! Cheguei à povoação já passava da meia noite, e a única informação que consegui acerca de um possível parque de campismo para pernoitar, e pelos vistos falsa, foi-me dada por um grupo de bacanos que estavam entretidos a fumar umas ervas aromáticas. “É já ali ao fundo daquela rua!!” Batatas!!! Andei ás voltas durante mais de meia hora e nada de “camping”!! Mas mês Agosto em Espanha, até de noite o calor aperta. Encostei a mochila num banco de jardim para fazer de almofada e ferrei um soninho mesmo ali no banco. Para quem não queria dormir na praia com medo da chuva o banco de jardim não está mal! Acordei lá para as 3 da matina com os mesmos bacanos a rir que nem uns perdidos a perguntar-me se estava tudo bem!! Lembro-me de responder: “ya meu tas bem. Estou á espera que nasça o dia para ir ali pá borda da estrada pedir boleia!!” Ainda ouvi um deles murmurar: “és louco”!! Acenderam mais uma ervinha, soltaram uma gargalhada, e deixaram-me ferrar mais uma soneca, só interrompida ocasionalmente para mudar de posição!! Acordei cedinho.... Todo escavacado! Malvado banco!! E pus-me à boleia para Barcelona!!

3 comentários:

  1. Já tinha saudades de vir aqui e ler qualquer coisa fresquinha! É sempre bom ler os teus textos cheios de sentido de humor e, claro, saber que estás aí! Manda mais! Beijinho

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  2. Adorei Zé Luis, Sou fan do teu blog!!!
    Tudo de bom para ti,
    Bjs
    Colette

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  3. Ora aqui está um exemplo de coragem e de determinação.

    Muitos são os momentos que me apetece sair à procura de determinadas coisas.

    Muitos são os momentos em que me cheio de coragem mas logo a seguir a perco.

    Ler as tuas palavras é um conforto muito grande.

    Um dia penso que vou conseguir "ir" e "ter"....

    Betta

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